Uma Homenagem a Joaquim Maria Machado de Assis
RESENHA DA PROFª VERA LÚCIA L. DIAS
Essse blog nasceu no dia 21 de junho de 2018, quando se completa 179 anos da morte do patrono da Academia Brasileira de Letras e seu fundador, Joaquim Maria Machado de Assis. E nada mais importante que prestar-lhe uma justa homenagem através da obra de outro escritor.
Segundo o escritor Italo Calvino, "clássico é um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer”. Na literatura brasileira, o escritor que melhor atendeu a esta receita é Machado de Assis, dono de um estilo não resolvido e desabusado. É nosso autor com a fortuna crítica mais prestigiosa, tanto dentro quanto fora do idioma. Para se escrever com originalidade sobre ele é preciso, portanto, identificar novos dizeres no interior de sua obra – uma tarefa para poucos. E como profundo conhecedor da obra machadiana, Godofredo conseguiu se apropriar do seu estilo e técnicas narrativas e, com isso, criar um livro bastante notável e curioso.
Nesta obra encontramos dois contos curtos: "O galo Adamastor" e "Val e Lalinha". Ambos são explicitamente inspirados por narrativas de Machado de Assis, o primeiro pelo conto "Idéias de canário" (originalmente publicado no livro de contos "Páginas Recolhidas", de 1899) e o segundo pelo romance mais famoso de Machado: "Memórias póstumas de Brás Cubas", de 1881.
O que Godofredo reveste esses dois contos com uma roupagem nova e mais moderna e mais contemporânea tornando-os assim mais divertidos e fascinantes. Para a nova geração nada mais atraente do que ler sobre o primeiro conto do livro, "O Galo Adamastor". Ele narra a história contada por um narrador da cidade de Florianópolis que se utiliza de redes sociais, carrega um tablet, vai ao shopping, faz selfies. Esse personagem, um tanto surpreendente, passa todo o conto descrevendo as histórias contadas para ele por um galo. Mas não um galo qualquer. Esse galo é capaz de conversar e filosofar com ele naturalmente, como se fosse um ser humano, e tenta convencê-lo que o conceito de liberdade é uma prática e não um conceito abstrato. E ainda o aconselha a procurar ajuda mostrando que nesse mundo é possível perder-se em ilusões .onde quem entende o mundo e as coisas do mundo e o ensina sobre elas é um galo de briga que ele compra justamente pelos ensinamentos que recebe do bicho. Esse conto tem pitadas de humor fino e irônico, tão características de alguns contos Machado.
O segundo conto é uma narrativa mais urbana, onde se processa um diálogo enntre uma uma psicóloga e uma interna de um presídio carioca, Lalinha, que veio parar lá por ter presumivelmente morto uma rival amorosa, Val. Ela tem um prontuário policial cheio de narrativas cheias de um realismo chocante. No conto inteiro os personagens masculinos são secundários. O que interessa destacar é a lógica que governa a mente de Lalinha e que define seu mundo. E assim como no conto original de Machado, jamais chegamos a uma conclusão se ela é de fato culpada ou inocente das acusações do processo movido contra ela.
Podemos observar que nesses dois contos encontramos coisas que são bem próprias de Machado de Assis: os contos dele são curtos, cheios de humor e ironia, além de conterem uma realidade que impacta.
Como se não bastasse, Godofredo investe numa qualidade de narrativa que nos ensina como se deve dar voz ao narrador e manter um elo de ligação entre quem está contando a história e quem a está ouvindo. Essa qualidade, ponto alto e dos mais positivos do livro, parece ter se perdido no estado de arte da atual literatura brasileira. E arrematando tudo isso, o escritor ainda expõe e demonstra nesses contos as preocupações com a situação e desafios que nosso país atravessa.
E no final fica sempre aquele gostinho de quero mais e ficamos torcendo para que Godofredo venha nos brindar com mais pastiches de Machado por sua competência e domínio da narrativa. Com essa obra nosso escritor comprova a sobrevivência e a importância da por meio da leitura dos clássicos de Machado, apesar do crescente aumento a cada dia de toda parafernália tecnológica que nos cerca. E o encanto dessa obra está justamente na afirmação da a supremacia da palavra sobre a tecnologia e da importância da contação de histórias.
Que venham mais pastiches do bruxo do Cosme Velho assim !
Segundo o escritor Italo Calvino, "clássico é um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer”. Na literatura brasileira, o escritor que melhor atendeu a esta receita é Machado de Assis, dono de um estilo não resolvido e desabusado. É nosso autor com a fortuna crítica mais prestigiosa, tanto dentro quanto fora do idioma. Para se escrever com originalidade sobre ele é preciso, portanto, identificar novos dizeres no interior de sua obra – uma tarefa para poucos. E como profundo conhecedor da obra machadiana, Godofredo conseguiu se apropriar do seu estilo e técnicas narrativas e, com isso, criar um livro bastante notável e curioso.
Nesta obra encontramos dois contos curtos: "O galo Adamastor" e "Val e Lalinha". Ambos são explicitamente inspirados por narrativas de Machado de Assis, o primeiro pelo conto "Idéias de canário" (originalmente publicado no livro de contos "Páginas Recolhidas", de 1899) e o segundo pelo romance mais famoso de Machado: "Memórias póstumas de Brás Cubas", de 1881.
O que Godofredo reveste esses dois contos com uma roupagem nova e mais moderna e mais contemporânea tornando-os assim mais divertidos e fascinantes. Para a nova geração nada mais atraente do que ler sobre o primeiro conto do livro, "O Galo Adamastor". Ele narra a história contada por um narrador da cidade de Florianópolis que se utiliza de redes sociais, carrega um tablet, vai ao shopping, faz selfies. Esse personagem, um tanto surpreendente, passa todo o conto descrevendo as histórias contadas para ele por um galo. Mas não um galo qualquer. Esse galo é capaz de conversar e filosofar com ele naturalmente, como se fosse um ser humano, e tenta convencê-lo que o conceito de liberdade é uma prática e não um conceito abstrato. E ainda o aconselha a procurar ajuda mostrando que nesse mundo é possível perder-se em ilusões .onde quem entende o mundo e as coisas do mundo e o ensina sobre elas é um galo de briga que ele compra justamente pelos ensinamentos que recebe do bicho. Esse conto tem pitadas de humor fino e irônico, tão características de alguns contos Machado.
O segundo conto é uma narrativa mais urbana, onde se processa um diálogo enntre uma uma psicóloga e uma interna de um presídio carioca, Lalinha, que veio parar lá por ter presumivelmente morto uma rival amorosa, Val. Ela tem um prontuário policial cheio de narrativas cheias de um realismo chocante. No conto inteiro os personagens masculinos são secundários. O que interessa destacar é a lógica que governa a mente de Lalinha e que define seu mundo. E assim como no conto original de Machado, jamais chegamos a uma conclusão se ela é de fato culpada ou inocente das acusações do processo movido contra ela.
Podemos observar que nesses dois contos encontramos coisas que são bem próprias de Machado de Assis: os contos dele são curtos, cheios de humor e ironia, além de conterem uma realidade que impacta.
Como se não bastasse, Godofredo investe numa qualidade de narrativa que nos ensina como se deve dar voz ao narrador e manter um elo de ligação entre quem está contando a história e quem a está ouvindo. Essa qualidade, ponto alto e dos mais positivos do livro, parece ter se perdido no estado de arte da atual literatura brasileira. E arrematando tudo isso, o escritor ainda expõe e demonstra nesses contos as preocupações com a situação e desafios que nosso país atravessa.
E no final fica sempre aquele gostinho de quero mais e ficamos torcendo para que Godofredo venha nos brindar com mais pastiches de Machado por sua competência e domínio da narrativa. Com essa obra nosso escritor comprova a sobrevivência e a importância da por meio da leitura dos clássicos de Machado, apesar do crescente aumento a cada dia de toda parafernália tecnológica que nos cerca. E o encanto dessa obra está justamente na afirmação da a supremacia da palavra sobre a tecnologia e da importância da contação de histórias.
Que venham mais pastiches do bruxo do Cosme Velho assim !
SINOPSE PRESENTE NO
SITE DA LIVRARIA DA TRAVESSA
SITE DA LIVRARIA DA TRAVESSA
O livro é composto por dois contos: O galo Adamastor e Val e Lalinha. Escritos a partir dos textos de Machado de Assis, Ideias de Canário e Dom Casmurro, eles levam o leitor a embarcar numa dupla jornada. A primeira convoca aquele cuja experiência prescinde do conhecimento dos contos machadianos – e ele sairá satisfeito dessa travessia. A segunda pressupõe o iniciado na vasta produção do Bruxo: esse terá direito a uma experiência que se dobra sobre ela mesma, e desvela o caráter da literatura machadiana, marcada ela própria pelos procedimentos de citação e releitura.
Os textos se metamorfoseiam pela mãos do escritor, o que resulta em dois relatos que, ao mesmo tempo em que se conectam à ficção machadiana, dela se distanciam saudavelmente, reivindicando uma desconexão própria à sua especificidade. Afinal, nos alertam os criadores, a verdade pode ser compreendida como ilusão retórica, e os leitores estão todos sujeitos a embarcar nessas interpretações propostas pelo escritores, como nos alerta o título deste volume. Não à toa, comparecem aqui a alusão ao universo mágico do circo e a truques de prestidigitação. Real, ilusão, fantasia e mentira partilham o espaço textual chamando o leitor a tomar parte ativa nessas histórias.
Os textos se metamorfoseiam pela mãos do escritor, o que resulta em dois relatos que, ao mesmo tempo em que se conectam à ficção machadiana, dela se distanciam saudavelmente, reivindicando uma desconexão própria à sua especificidade. Afinal, nos alertam os criadores, a verdade pode ser compreendida como ilusão retórica, e os leitores estão todos sujeitos a embarcar nessas interpretações propostas pelo escritores, como nos alerta o título deste volume. Não à toa, comparecem aqui a alusão ao universo mágico do circo e a truques de prestidigitação. Real, ilusão, fantasia e mentira partilham o espaço textual chamando o leitor a tomar parte ativa nessas histórias.
Título: ILUSAO E MENTIRA: AS HISTORIAS DE ADAMASTOR E DE LALINHAi
ISBN: 9788599508497
Segmento Específico: CONTOS E CRONICAS
Idioma: Português
Encadernação: Capa dura
Formato: 14 x 21
Páginas: 100
Ano de edição: 2014
Edição: 1ª
ISBN: 9788599508497
Segmento Específico: CONTOS E CRONICAS
Idioma: Português
Encadernação: Capa dura
Formato: 14 x 21
Páginas: 100
Ano de edição: 2014
Edição: 1ª